Já em tempos idos, quando eu era estudante universitário, me fazia muita confusão a barafunda que sempre reinava na
Faculdade de Arquitectura da
Universidade Técnica de Lisboa. Entre os relatos televisivos de greves dos estudantes e as experiências contadas na primeira pessoa por um amigo que lá andava, tudo aquilo me parecia irreal tal era a anarquia reinante que permitia praticamente a cada professor ditar as regras de conduta e avaliação conforme quisesse e mudá-las sempre que uma série de imperativos o ditasse. Tais imperativos estariam bem definidos no código pedagógico que muitos seguiam a rigor, incluindo, entre muitos outros que desconheço, a direcção do vento no Alto da Ajuda, o tempo passado nos engarrafamentos no último mês, semana ou dia, o número de multas passados pela BT por excesso de velocidade ou o número de vezes que os alunos adormeciam nas suas aulas.
Más línguas diziam que a culpa era do Taveira e, quando ele de lá saíu, as coisas teriam acalmado.
Talvez até seja verdade, mas quando oiço histórias frescas desse viveiro da arquitectura portuguesa, tenho a nítida sensação de estar a ouvir as histórias de há 5 ou 10 anos atrás que tão colorida imagem deixaram na minha imaginação.
Segundo sei de fonte interna segura, os prazos continuam a ser puramente especulativos (uma vez que vão mudando conforme interlocutor, hora do dia, altura do ano, estado do projecto e, claro está, o vento no Alto da Ajuda). Duvido mesmo que muitos dos professores da FA saibam o que é ou como utilisar um calendário ou uma agenda, embora isso venha tipicamente em favor da qualidade dos trabalhos dos estudantes mas em detrimento da sua capacidade de organização e habilidade de planear o que quer que seja a mais de um (
pseudo-)prazo de antecedência. Também os critérios de avaliação são algo de volátil e, talvez por isso, ninguém chegua bem a saber com antecedência como, quando ou onde é que se vai fazer a avaliação.
Mas o que me levou a escrever este
post, foi uma cadeira em particular que teria que terminar com uma oral. À partida a oral era obrigatória e seria impreterivelmente realizada no dia X de manhã. O próprio professor assegura que é completamente impossível a qualquer aluno mudar a data, pelo que ninguém pode sair da cidade nesse dia. Passados uns tempos (provavelmente mais um efeito colateral das imprevisiveis mudanças do vento no Alto da Ajuda), a oral passa a ser na semana seguinte. Mais tarde deixa de ser obrigatória para quem tenha menos de 7 ou entre 10 e 16. Mas, aberração nunca antes vista (talvez por ter feito engenharia), todos têm que lá estar às 9h do dia da oral para saberem se têm que fazer oral nessa mesma manhã. Ao que parece faz-se mesmo a chamada... e o que acontece a quem esteja doente mas esteja isento de oral? E se, tendo mais de 16, não se quiser fazer oral? Fica-se com a nota máxima que dá direito à isenção? (no IST era assim, como ditam todas as regras de senso comum...)
Será que não há associação de estudantes nem conselho pedagógico que tente melhorar estas situações aberrantes por forma a proporcionar um ensino
normal de qualidade?
(não me levarão a mal os arquitectos da FA, mas ainda bem que há sempre um engenheiro a verificar os projectos de pontes e edifícios, pois a subvalorização do efeito do vento do Alto da Ajuda poderia ter efeitos catastróficos!)